quarta-feira, 28 de outubro de 2009

CHARLTON HESTON É IMORTAL

PUBLICADO NA FOLHA DA REGIÃO NO DIA 13 DE ABRIL DE 2008


Poucos dias após a morte do ator Richard Widmark, foi a vez de Charlton Heston se retirar de cena. Widmark foi o ator das sombras, ou seja, com o seu riso descontrolado personificou a ambigüidade, a instabilidade e a desconfiança nas telas do cinema. Após derrubar uma senhora das escadas, nunca sabíamos se ele ria por ser realmente um escroto ou se o riso era trágico, significava desespero.

Heston representou o oposto de Widmark. Ele não fazia nos filmes o tipo “cinzento”, indecifrável e misterioso. Heston sempre foi transparente. “Acredito que em algum lugar deve haver algo melhor que o homem”, dizia o explorador espacial, seu personagem na ficção-científica “O Planeta dos Macacos”.

Heston foi algo muito além de um simples homem. Heston foi Ben-Hur, o indômito judeu que conduziu seu povo a se rebelar contra os conquistadores romanos no filme homônimo de 1959. Foi também El Cid, o comandante da resistência espanhola contra os invasores mouros, no filme com o mesmo nome do herói, de 1961.

Incorporou, ainda, Moisés, aquele que conduziu os escravos a se libertarem do reino tirano do Egito, na refilmagem do épico “Os Dez Mandamentos”, realizado por Cecil B. DeMille em 1956, e pintou a Capela Sistina, como Michelangelo, em meio a diferenças artísticas com o Papa da Igreja Católica, no filme “Agonia e Êxtase”, de 1965.


Até quando fez um reles policial mexicano no filme “A Marca da Maldade”, dirigido por Orson Welles em 1958, ele não era só mais um homem entre tantos outros, mas um ser superior em sua integridade profissional que o destacava da corrupção do meio ao qual se inseria.

Charlton Heston foi mais do que um herói do cinema, mais do que um ator de épicos. Um ator épico! Não era ele tão grandioso quanto os filmes que realizou, mas eram os filmes que deveriam estar à sua altura. Heston era um ator “larger than life and screen” (maior que a vida e a tela).

Recentemente, muita coisa foi mostrada ou falada na tentativa de macular sua imagem do cinema, como revelar sua defesa em causas tão estúpidas quanto às do partido republicano do presidente George W. Bush - a guerra no Iraque - ou do direito do cidadão norte-americano em portar armas - o ator foi, inclusive, presidente da “Associação Nacional do Rifle”.

Porém, esses mesmos que acusam o ator “disso e daquilo”, como o covarde vigarista Michael Moore, diretor do filme “Tiros em Columbine”, no qual mostrava Charlton Heston como um senil senhor defensor de uma causa tão nefasta quanto das armas, se esquecem que, quando jovem, Heston arrastava seus papéis heróicos para fora da tela:

Carregou a faixa “Todos os homens nascem iguais” ao lado de Martin Luther King na Marcha pelos Direitos Civis nos anos 60 e esteve ao lado do prodígio e obstinado Orson Welles quando o estúdio queria montar o filme “A Marca da Maldade” à revelia do diretor.


John Charles Carter, o homem Charlton Heston, porém, não me interessa tanto. Sua imagem, sua presença no cinema é tão imaculada quanto à de um santo. Podem dizer que era um ator de pouco repertório, que só fez papéis bíblicos, épicos, etc.

A verdade é uma só. Heston nunca pareceu se esforçar muito para interpretar tais papéis porque, de certo, ele realmente era aquele ser ideal, “melhor do que o homem”, um ser tão grandioso e monumental quanto os filmes que fazia sob a direção do DeMille. Um aristocrata do cinema, enfim.

John Charles Carter morreu, mas Charlton Heston é imortal. Quando recebi a notícia de sua morte, por exemplo, estava revendo “O Planeta dos Macacos”. E, por lá, ele ainda está bem vivo, a repetir frases do tipo: “tire suas patas imundas de mim, seu macaco sujo!”. Sempre, um nobre.

3 comentários:

Anônimo disse...

sem comentários...FANTÁSTICO!

ANTONIO NAHUD disse...

Belo texto.
Gostei.

O Falcão Maltês

Pimentel disse...

Parece traduzir com toda a exactidao tudo o que Charlton Heston foi na setima arte.