Dentre milhares das histórias em quadrinhos adaptadas para o cinema, existem fimes dos mais variados tipos.
Há casos como os dois primeiros da saga de Batman, no qual o cineasta Tim Burton canalizou a mitologia do homem-morcego para seu mundo, habitado por criaturas marginalizadas a viver num mundo tão soturno quanto as suas almas.
Existiram filmes como o primeiro Superman, em que o cineasta Richard Donner transpôs a saga do herói da forma mais respeitosa possível. Tom que impulsionou o tratamento dos três filmes sobre os mutantes de “X-Men”.
As porcarias também foram muitas, da “clássica” versão de “Capitão América” ao moderno “O Demolidor” e também as nulidades, as versões para “O Justiceiro”, que complementam o vasto cardápio.
Da ousadia do italiano Mario Bava com “Perigo Diabolik” para as inconseqüências dos dois filmes sobre “O Quarteto Fantástico”, os filmes de super-heróis não só se firmou como um subgênero rentável como, por conseqüência, se diluiu.
Se há uma única adaptação de qualquer história em quadrinhos que reflete esse histórico, esta seria a do “Homem-Aranha”, que chegou ao terceiro episódio mantendo o mesmo espírito do primeiro exemplar.
Nenhum dos filmes da série pode ser alcunhado de obra-prima, como o trabalho de Burton, como porcaria ou mera diluição.
O trabalho de Raimi é parecido com “O Quarteto Fantástico” em sua despretensão, mas a adição da consciência no trato de um produto ultra-saturado e pasteurizado, levou o realizador a embutir nos filmes do “Homem-Aranha” um espírito de deboche que muito se espelha no terceiro episódio de Superman, dirigido por Richard Lester.
Por esse quesito,“Homem-Aranha 3” é o melhor dos três filmes sobre o aracnídeo. A colocação surpreende porque o filme dava toda a pinta que poderia ser uma bomba: por ser o terceiro episódio, não se estranharia caso o resultado fosse um longa-metragem sem fôlego, repetidor de fórmulas.
Dos piores pressentimentos que cercavam a feitura do filme, muito ele lembrava o carnavalesco “Batman e Robin”, de Joel Schumacher, no uso de muitos personagens secundários e sub-tramas, além do excesso de vilões - Venom, Homem-Areia e Duende Macabro.
Porém, Sam Raimi sempre foi um hábil cineasta em revigorar ou parodiar outros filmes e gêneros - a trilogia “Evil Dead” e toda tautologia do gênero de horror, “Rápida e Mortal” e as regras do faroeste espaguete, “Um Plano Simples” e a conversão do clima noir - e, como conhecedor das “regras do jogo”, o realizador é capaz de trabalhar na tênue linha que separa a diluição da invenção.
O iniciar da história e a explicação do surgimento do Homem-Aranha muito limitou o primeiro filme, no qual Raimi trabalhou com amarras bem atadas narrativamente. Já no segundo episódio, pôde-se notar uma maior intimidade do cineasta, que aglomerou diversos elementos caros ao seu cinema - o humor adolescente, o horror macarrônico, o descaramento da atuação de Bruce Campbell, em sua rápida aparição.
Com a mitologia do herói bem estabelecida e a solidez da franquia, restou Sam Raimi fazer do terceiro capítulo um trabalho mais desenvolto naquela linha entre a diluição e a invenção.
No campo da diluição, tem-se o personagem Peter Parker (Tobey Maguire) seduzido pela fama que, finalmente, atingiu o herói que representa e, também, o cenário da cidade de Nova York poluído com outdoors eletrônicos que mostram fotos e animações do Homem-Aranha.
No campo da invenção, o viés debochado no trato do herói como um ícone saturado põe em crise o jogo de espelhos que desvirtuam o foco do iludido Peter. O foco é desviado, inclusive, pela narrativa do cineasta, que envolve a narrativa num clima de “Os Embalos de Sábado à Noite” quando o protagonista é contaminado pelos efeitos colaterais da roupa negra que usa e o transforma num emo.
“Homem-Aranha 3” nem é engessado como o terceiro episódio dos mutantes de X-Men nem dá vexame como os últimos filmes do homem-morcego. Entre os extremos, o terceiro episódio do aracnídeo se prova uma bela surpresa, pois revitaliza a energia dos episódios anteriores.
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