Martin Scorsese sempre expôs sua condição de cinéfilo na indústria de Hollywood, tendo feito até, por muitas vezes, o chatíssimo papel de "porta-voz" da cinefilia norte-americana.
Scorsese já depôs sobre cineastas em entrevistas para lançamentos de edições especiais em DVDs de vários filmes do passado e também realizou documentários sobre o cinema norte-americano e o italiano.
Porém, com o passar dos anos, sua paixão exacerbada pelo cinema serviu de colete à prova de balas para que seu trabalho ficasse intocável numa redoma de vidro. Criticar um filme de Scorsese equivale a um crime para qualquer cinéfilo.
Scorsese já depôs sobre cineastas em entrevistas para lançamentos de edições especiais em DVDs de vários filmes do passado e também realizou documentários sobre o cinema norte-americano e o italiano.
Porém, com o passar dos anos, sua paixão exacerbada pelo cinema serviu de colete à prova de balas para que seu trabalho ficasse intocável numa redoma de vidro. Criticar um filme de Scorsese equivale a um crime para qualquer cinéfilo.
A verdade é que os artistas são humanos, ou seja, eles erram e passam por dias ruins. Com Martin Scorsese não é diferente. Se muitos dos seus amigos de geração erraram e tiveram seus equívocos reconhecidos, por que não tirar o colete do realizador de "Taxi Driver", de 1976, e "Touro Indomável", de 1980?
Se Francis Ford Coppola fez "Jack" (aquele mesmo, com Robbin Williams) e Brian De Palma realizou fiascos iguais ao "Quem tudo quer, tudo perde", qual o problema em dizer que "Cabo do Medo", 1991, é um filme ruim de gênero enrustido de "grande arte" ou, ainda, que "O Aviador", de 2004, é um verdadeiro elefante branco?
Martin Scorsese vive dias ruins e seu último trabalho, "Os Infiltrados", é um bom exemplo disso.
"Os Infiltrados" é como uma caricatura de outros trabalhos do Scorsese. Começa como "Cabo do Medo", um filme de gênero tentando elevar sua "qualidade": para mostrar os conflitos étnicos que assolam Boston - mafiosos irlandeses, traficantes italianos e negros -, o cineasta não encena qualquer rotina de tais grupos, ele não constrói um mundo no qual a trama, de policiais infiltrados na máfia e mafiosos infiltrados na polícia, possa ganhar uma projeção dramática.
Ao contrário de qualquer solução eficaz, o cineasta simplesmente falsifica uma cena documental no qual gangues se digladiam e testemunhas depõem defronte a câmera treme-treme da suposta reportagem. Para ficar mais "cool" ou se auto-reverenciar, Scorsese dita o ritmo dessa baboseira com uma música do Rolling Stones (banda utilizada em outros filmes do cineasta, como no "Caminhos Perigosos", de 1973).
A música também introduz o personagem de Jack Nicholson, Frank Costello, o chefão da máfia em Boston que conecta todas as tramas, envolvendo as investigações policiais do agente infiltrado feito por Leonard Di Caprio e os serviços de contra-espionagem realizados pelo mafioso infiltrado na polícia, e afilhado de Frank, interpretado por Matt Damon.
Frank não é um mafioso comum. É um total psicótico, que não para de pensar em sexo até mesmo quando está a matar um inimigo. Ele trata seus crimes como se estivesse realizando obras de arte. A presença sempre desestabilizadora dele não funciona como a atuação do Joe Pesci em "Os Bons Companheiros", de 1990, que fazia do humor um barril de pólvoras nas suas cenas.
A presença de Frank Costello é lapidada por Jack Nicholson não como se estivesse em um "típico" filme de máfia, mas como se reprisasse seu papel de Coringa no "Batman". Desse modo, Nicholson é o único em cena a ter plena consciência do tom caricatural do filme, de obra que aspira a uma piada de mau gosto.
Enquanto o vilão trabalha na contramão, o filme caminha para um beco sem-saída. A estrutura fragmentada do filme - que sobrepõe cenas de violência, do trabalho dos infiltrados, às suas crises pessoais - é tirada de "Touro Indomável", que tinha as cenas de luta do boxeador sobrepostas às brigas do personagem com sua família.
A montagem agressiva, em blocos, do filme de 1980, que servia à dramaturgia para mostrar como as lutas do boxeador funcionavam como extensão de suas crises e brigas domésticas, no filme “Os Infiltrados” em nenhum momento tal recurso parece se justificar.
A preocupação do Scorsese em interpretar o papel de porta-voz da história do cinema levou-o a se preocupar mais em preencher os enquadramentos do seu filme com os Xs, homenageando o filme “Scarface”, de Howard Hawks, que era cheio deles, do que em absorver o complexo mundo de seus personagens para a superfície da tela.
As bruscas mudanças temporais colaboram mesmo para distanciar o espectador dos dilemas dos personagens, pois nunca os gestos deles justificam a afeição que nutrem por seus chefes ou exprimem a dureza de se manter escondido e levar uma vida dupla.
Há uma cena que parece, assim como Jack Nicholson, ter consciência da insuficiência do filme: num cerco armado por policiais para pegar o mafioso com as mãos na massa, algum oficial se esquece de botar uma câmera de vigilância no fundo do galpão onde se desenrola a ação. Ele esquece de colocar a câmera exatamente no espaço por onde se concretizará o ato.
O filme é essa cena, um conjunto de eventos filmados pelo ângulo errado.
2 comentários:
Tu bebeu o que, pra falar tamanha bobagem ?
Você bebeu qual cachaça pra falar tantas abobrinhas ?
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