Um é considerado como dos maiores cineastas que surgiram no cinema moderno norte-americano, o outro é tido como uma das maiores revelações do cinema asiático dos últimos anos. O que esses dois artistas, de duas tradições culturais diferentes, têm em comum é o interesse em refletir à cerca da violência, que irrompe tanto de grupos marginalizados quanto de órgãos responsáveis por estabelecerem a ordem.
O norte-americano é Sam Peckinpah. Conhecido por ter realizado, entre a década de 60 e 70, os faroestes violentos e desmistificadores “Meu Ódio Será Sua Herança” e “Pat Garrett & Billy The Kid”, o cineasta tem finalmente lançado no país um de seus mais depreciados filmes: “Comboio”, de 1978, seu penúltimo trabalho.
O cineasta chinês é Johnny To. Despontou nos anos 80 e conta com uma filmografia de trinta filmes realizados, mas só foi reconhecido internacionalmente quando apresentou no festival de Cannes, em 2004, o longa-metragem “Breaking News - Uma Cidade em Alerta”. O filme que agora chega às locadoras chama-se “Eleição - Submundo do Poder”, de 2005, e é um de seus trabalhos mais aclamados.
O mestre em um filme aparentemente decadente, o pupilo indiscutivelmente no auge de sua forma:
Em “Comboio” Peckinpah transformou seus caubóis em caminhoneiros que, tão desajustados quando os pistoleiros, vivem a fugir de homens da lei interessados em extorqui-los dinheiro. A mudança de postura com relação ao material talvez seja o principal fator do insucesso do filme, notando que o fatalismo amargurado de Peckinpah nunca combinaria com o humor descarado, proposto desde início, dessa aventura inconseqüente, inspirada em músicas de caminhoneiros.
O norte-americano é Sam Peckinpah. Conhecido por ter realizado, entre a década de 60 e 70, os faroestes violentos e desmistificadores “Meu Ódio Será Sua Herança” e “Pat Garrett & Billy The Kid”, o cineasta tem finalmente lançado no país um de seus mais depreciados filmes: “Comboio”, de 1978, seu penúltimo trabalho.
O cineasta chinês é Johnny To. Despontou nos anos 80 e conta com uma filmografia de trinta filmes realizados, mas só foi reconhecido internacionalmente quando apresentou no festival de Cannes, em 2004, o longa-metragem “Breaking News - Uma Cidade em Alerta”. O filme que agora chega às locadoras chama-se “Eleição - Submundo do Poder”, de 2005, e é um de seus trabalhos mais aclamados.
O mestre em um filme aparentemente decadente, o pupilo indiscutivelmente no auge de sua forma:
Em “Comboio” Peckinpah transformou seus caubóis em caminhoneiros que, tão desajustados quando os pistoleiros, vivem a fugir de homens da lei interessados em extorqui-los dinheiro. A mudança de postura com relação ao material talvez seja o principal fator do insucesso do filme, notando que o fatalismo amargurado de Peckinpah nunca combinaria com o humor descarado, proposto desde início, dessa aventura inconseqüente, inspirada em músicas de caminhoneiros.
Mas àqueles que pensam “Comboio” se tratar de um filme nulo na filmografia do diretor, vale notar que mesmo realizando um pretenso veículo para impulsionar a carreira de Kris Kristofferson como ator e sendo famosas as estórias das bebedeiras homéricas e o crescente desinteresse do cineasta pelo projeto, está nas imagens do filme o afeto de Peckinpah por paisagens e personagens desolados - as pocilgas à beira de estradas, as prostitutas e os errantes que por elas caminham - e também a habitual igualdade com que o cineasta vê figuras tão duais quanto os “homens da lei” e os “bandidos”.
Sobre o filme de Johnny To, “Eleição”, pode-se dizer que a influência de Peckinpah está presente desde a cena inicial, quando crianças são vistas brincando de pega-pega enquanto os pais discutem sobre os rumos dos negócios da máfia chinesa. Com essa cena, que se assemelha muito à cena inicial do filme “Meu Ódio Será Sua Herança”, onde crianças brincam de torturar escorpiões, To parece se apoiar no discurso de Peckinpah ao mostrar que a violência é inata ao ser humano.
Não para por aí. A forma como Johnny To organiza a narrativa, sobre o processo de alternância de poder nas poderosas tríades chinesas, igualando esse processo eleitoral a qualquer outro tipo de eleição política oficial - com cotas generosas de subornos, chantagens e atos de violência -, aproxima-o da visão crítica com que Peckinpah via as instituições norte-americanas (em “Comboio”, por exemplo, os policiais são pintados como meros caipiras desleixados).
Mas onde Peckinpah esbarrava em dificuldades para trabalhar com o “burlesco”, To parece ter facilidades em trabalhar numa chave cômica. Há uma cena, logo no início de “Eleição”, onde fica evidente essa habilidade do cineasta: um capanga come uma colher de porcelana após ser incentivado pelo seu chefe, que lhe dava uma bronca (a intervenção, porém, não se inscreve como “alívio cômico”, acaba é por reforçar o caráter ameaçador do personagem e desestabiliza as expectativas do espectador com relação à narrativa).
“Comboio” pode não ser o melhor exemplar de Peckinpah, mas sua vitalidade em conduzir a dramaturgia de um filme permanecia intacta - os caminhões em constante movimento acompanhados por uma câmera tão obstinada quanto os veículos, em meio à zooms e panorâmicas.
Johnny To, por sua vez, passa de uma promessa e se firma como um dos mais talentosos cineastas de sua geração, fazendo dos espaços que habita - sejam as tríades (“Eleição”) ou a televisão que acompanha a caça de gato e rato entre policias e bandidos (“Breaking News”) - a atualização da reflexão de um tema tão caro ao seu mestre Sam Peckinpah.
“Eleição” não deixa de ser também um filme sobre a herança de To. Sendo a trama do filme sobre a manutenção da gerência das tríades e sendo essa manutenção realizada pelo tradicional gesto de passar adiante um simbólico cetro ao sucessor, Johnny To estaria aqui a assumir o cetro que antes pertenceu à Peckinpah, como cineasta preocupado em refletir as formas como a violência se manifesta e os modos de encená-la.
2 comentários:
Hey Diego!
Que bacana descobrir que vc tbm tem um blog! Adoro a sua coluna, e poder contar com o blog agora vai ser ótimo! Sempre vou passar por aqui pra ver sua opinião antes de me aventurar nos filmes por ai! ;)
Um beeeijo!
Olá Marcela. É, por enquanto o blog permanecerá mesmo como um "baú de quinquilharias", onde posto as coisas da coluna do jornal mesmo, mas num futuro poderá aparecer uma ou outra coisa diferente.
Valeu pela visita, e também pelo elogio. Beijos.
Postar um comentário