terça-feira, 25 de março de 2008

SUPERMAN IV: A OVELHA NEGRA DA SÉRIE

PUBLICADO NA FOLHA DA REGIÃO NO DIA 08 DE JULHO DE 2007


O quarto episódio do Superman não figura entre os melhores filmes da saga do herói. Para muitos, não possui a grandiloqüência do primeiro. Para outros, faltou o toque humorístico que caracteriza o segundo e, principalmente, o terceiro filme.

O primeiro da série eternizada por Christopher Reeve é considerado o melhor mais por ser o marco inaugural do que pelo resultado do filme propriamente. Richard Donner, diretor do filme de 1978, parecia entender que o termo “épico” designava alongar cada cena mais do que o necessário.

Por respeitar demais a reputação do material, o cineasta fez do herói um Cristo intocável e de sua história um evangelho. O resultado é um tanto cambaleante, falta humor ao personagem. Em suma, falta-lhe vida.


Os dois filmes seqüentes são superiores ao trabalho de Donner. Richard Lester assumiu a batuta da direção e o que fez com o super-herói não foi muito diferente do que tinha feito com os Beatles no filme “Os Reis do Iê-Iê-Iê”.

O frenesi provocado pelos Beatles na Inglaterra dos anos 60 não é muito distante do absurdo da popularidade que envolve um super-herói vestindo um uniforme azul e capa vermelha que voa por uma metrópole. As peripécias e as batalhas de Christopher Reeve no segundo e no terceiro filme se desenvolvem sob a lógica do escracho.

O quarto capítulo é sim a ovelha negra da “família” - foi inclusive produzido pela companhia Cannon Films, responsável por lançar a temerosa carreira de Chuck Norris e distribuir os primeiros trabalhos de Jean-Claude Van Damme -, mas é também o único filme da série que conseguiu equilibrar a imponência epopéica num ritmo cômico.


O argumento do filme “Superman IV - Em Busca Da Paz”, de 1987, é sobre uma campanha de desarmamento nuclear mundial liderada pelo super-herói em pleno desenrolar da Guerra Fria. Para o interprete do herói, Christopher Reeve, são questões iguais a essa que o personagem deveria enfrentar.

Há ainda um sub-tema envolvendo a mudança de linha editorial do jornal Planeta Diário, transformado em tablóide sensacionalista. Questão que, ironicamente, comenta o fato da Cannon Films - responsável por filmes oportunistas e de baixa qualidade artística - encabeçar a produção do filme.

A direção ficou a cargo do prolífico Sidney J. Furie, que atualmente é mais conhecido por bater o cartão nos filmes atuados por Dolph Lundgren. Sendo Furie um cineasta de ação, ele não faz do Superman um personagem shakespeariano, cheio de psicologismos como no primeiro filme, e também não o transforma num Jerry Lewis, o comediante dos filmes seqüentes.


Seu Superman é superficial, atribuição que possibilita tanto o personagem deslizar pelo humor sem que, com isso, perca sua força como figura mítica. Ele é uma figura translúcida, como translúcido é o filme “Superman IV”, obra que deixa passar a luz do personagem sem que se perca sua magia intrínseca. Um filme que se atém às aparências, ou seja, à essência do cinema.

É nesse ponto que “Superman IV” se assemelha muito aos filmes dirigidos por Vittorio Cottafavi para o gênero peplum. Peplum é o termo que se refere às saias usadas pelos personagens musculosos, como Hércules, nos filmes épicos italianos em que os heróis enfrentavam terríveis vilões para salvar lindas mulheres.

Como nos filmes de Cottafavi, um simples gesto e movimento de câmera conduzem o espectador a uma jornada iniciada em um cenário limitado (uma taverna num dos filmes do italiano, uma fazenda no filme do super-herói) que logo é estendida para terrenos como o mar, o céu ou o inferno. Sidney J. Furie tem pleno senso de escala, como nenhum outro cineasta que coordenou a saga.


Esse senso de escala que faz do cineasta o único da série hábil em fazer de um momento cômico um grande evento épico e de um grandioso momento um instante humorístico.

A cena em que Clark Kent e Superman marcam compromissos num mesmo lugar e na mesma hora é a prova do talento de Furie. Entre trocas de uniformes, corridas e vôos em um prédio, o cineasta faz de uma piada visual um tanto desgastada um momento único, em que a comédia e a aventura estão intimamente conectadas, em que nem uma nem a outra se sobressaí.

A habilidade que o cineasta provara dominar se expande das desventuras do prédio para um confronto com o vilão do filme, o Homem-Atômico (forte e com uma vestimenta exagerada, como se integrasse realmente um peplum). No confronto, os oponentes usam a Estátua da Liberdade como espada, um prédio como escudo e o globo terrestre como arena.


Para completar esse peplum sem homens de saias, não poderiam faltar também as lindas mulheres indefesas. Sendo uma magricela Margot Kidder a interprete da Louis Lane, a encorpada Mariel Hemingway foi acrescida para enriquecer o quarto filme da saga. Episódio que Sidney J. Furie dirigiu como se estivesse na Itália a refilmar “Hércules e a Conquista de Atlântida”.

8 comentários:

Marcelo V. disse...

Meu preferido da série é o terceiro, no qual a personalidade do Lester se instala. Do Furie, gostei de "Sangue em Sonora" (em especial, do John Saxon).

Diego Assunção disse...

Marcelo, eu curto muito o terceiro episódio também (Reeve incorporando o Jerry Lewis, a presença do Richard Pryor, a algazarra que o Lester instaura), só acho que o Furie consegue esse raro equilíbrio entre a aventura e o humor. É uma característica presente também nesse faroeste, não?

Anônimo disse...

Gostei muito deste post, primeiro por resgatar um título que um suposto bom gosto cinematográfico faria questão de ignorar e por traçar parentescos aparentemente inusitados, revelando domínio de repertório e incessante interesse pela pesquisa, preocupações de alguém que realmente leva a sério a reflexão cinematográfica

Thiago Angelo disse...

Gostei muito desse post. Você soube tratar com a decência merecida aquele que é, provavelmente, o mais injustiçado dos filmes do Super-Homem. Acho que o filme não foi bem nos EUA por mostrar o herói lutando contra armas nucleares, um tema que os americanos simplesmente fingem ignorar. Existe um preconceito contra o filme por ele ter sido produzido pela Cannon, produtora injustamente perseguida pelos críticos e outros almofadinhas.
Superman 4 é um título que carrega um fardo injusto, pois Superman - O Retorno (2005) é muito mais fraco que Superman 4 e simplesmente não empolga tanto. Isso sem falar que em qualquer dos filmes do Superman da fase Reeve, o elenco esbanja competência e Reeve da credibilidade ao herói. Já em Superman - O Retorno, o elenco é apático e Brandon Routh, por mais que tente, não tem carisma suficiente para fazer o papel do herói. Parabéns pelo post e pelo blog. Esses filmes merecem ser vistos sob uma ótica diferente como a sua.

Douglas 悪魔城ドラキュラX disse...

"Os dois filmes seqüentes são superiores ao trabalho de Donner."

parei de ler aqui... claro que NUNCA! os filmes do Lester são uma tristeza, e as grandes sacadas do Superman II são graças ao Donner (que dirigiu boa parte do filme antes de ser injustamente chutado) e ainda falar que aquela galhofa do 3 é melhor que o icônico primeiro filme (e que o defeito do primeiro é ter FALTADO humor) me desculpe, mas vc no mínimo não entende muito do Superman

Anônimo disse...

Superman III é patético. O IV, é muito ruim. Inacreditável esse post. É brincadeira essa crítica? Estou perguntando seriamente: essa crítica é séria, ou uma brincadeira?

esales disse...

Não acredito que alguém gostou do 3°,foi o pior e só tem palhaçada,saiu do ritmo dos dois primeiros.

esales disse...

Não acredito que alguém gostou do 3°,foi o pior e só tem palhaçada,saiu do ritmo dos dois primeiros.